Obs: A palavra Espiritualidade não deve ser confundida com Espiritismo, usamos essa palavra no sentido de que a espiritualidade "traduz uma dimensão do homem, enquanto é visto como ser naturalmente religioso, que constitui, de modo temático ou implícito, a sua mais profunda essência e aspiração".

Fonte: Wikipedia: http://pt.wikipedia.org/wiki/Espiritualidade

terça-feira, 18 de fevereiro de 2014

Ausência de paz na terra santa: Motivos históricos do permanente conflito


Tragos aos prezados amigos que nos honram a leitura de estudo feito e publicado por Wander de Lara Proença, pela Faculdade Teológica Sul Americana. O texto possui opiniões pessoais do autor porém achei de grande valia para nosso melhor entendimento sobre os conflitos na chamada "Terra Santa".

Boa leitura!


Discórdia familiar. Assim começa a descrição bíblica do que viria a se tornar um histórico conflito entre povos que atualmente professam a fé monoteísta. Segundo a narrativa do Gênesis, não podendo ter filho de sua mulher Sarai, Abrão tomou por esposa a sua escrava egípcia, Hagar, da qual viera a nascer-lhe Ismael. Esta atitude, que foi inicialmente sugerida pela própria Sarai, tinha precedentes legais no Código de Hamurabi (elaborado na Mesopotâmia), o qual prescrevia para os contratos de casamento, a obrigação de prover-se esposa para o marido, caso a mulher não pudesse lhe gerar filhos. A concepção de Ismael, entretanto, gerou desentendimento e conflito entre senhora e escrava: “Vendo Hagar que havia concebido, foi sua senhora por ela desprezada ... Disse Sarai a Abrão: seja sobre ti a afronta que se me faz a mim ... Sarai humilhou-a, e ela fugiu de sua presença” (Gên.16:1-6). Depois disto, um anjo do Senhor apareceu-lhe “no caminho do deserto de Sur” (v.7) ordenando a Hagar que voltasse para a casa de sua senhora, fazendo-lhe, inclusive, uma promessa: “Multiplicarei sobremodo a sua descendência ... Concebeste, e darás à luz um filho a quem chamarás Ismael ... Ele será entre os homens como um jumento selvagem; a sua mão será contra todos, e a mão de todos contra ele”. (Gên.16:9-12). Interessante é notar que as promessas feitas por Deus a Abrão incluem também Ismael: “Dar-te-ei à tua descendência a terra das tuas peregrinações, toda a terra de Canaã em possessão perpétua, e serei o seu Deus ... abençoá-lo-ei (Ismael), fá-lo-ei fecundo e o multiplicarei extraordinariamente; gerará doze príncipes, e dele farei uma grande nação” (Gên.17:8,20). Ismael também foi incluído na aliança pelo rito da circuncisão, juntamente com seu pai (Gên.17: 23-27).

Mais tarde, de forma miraculosa, a estéril Sara também veio a conceber, menino sobre o qual também repousou promessa tão grande quanto: “Sara tua mulher te dará um filho e lhe chamarás Isaque: estabelecerei com ele a minha aliança, aliança perpétua para a sua descendência” (Gên.17:19). Um novo desentendimento surgiu quando do nascimento daquela criança: “Vendo Sara que o filho de Hagar, a egípcia, caçoava de Isaque, disse a Abraão: rejeita essa escrava e seu filho, porque o filho dessa escrava não será herdeiro com Isaque meu filho” (Gên.21:9-10). A escrava então conduziu o seu filho ao deserto, onde se tornou guerreiro, vindo a se casar com uma egípcia. Ismael morreu com “cento e trinta e sete anos” (Gên.25:17) e a sua descendência passou a ocupar as regiões da atual Arábia Saudita (v.18).

A Ocupação da Palestina pelo Povo Judeu


Os hebreus, ou judeus, são descendentes de Isaque, sendo que deste nasceu Jacó, que teve o seu nome mudado para Israel (Gên.32:28). De Israel nasceram doze filhos, que vieram a formar as doze tribos que ocupariam a terra prometida por Deus a Abraão, por volta do ano 1.200 a.C., conquistada sob a liderança de Josué, após a libertação do Egito e a peregrinação pelo deserto. Nesta terra da promessa o rei Davi, por volta do ano mil a.C., fez de Jerusalém a capital do seu reino, onde seria construído por Salomão, no século X a.C., o templo sobre o Monte Sião, que se tornaria a principal referência sagrada para o povo judeu, que faria daquela cidade, definitivamente, a “Cidade Santa”. Historicamente, nasceria ali a primeira religião monoteísta: o Judaísmo (nome este dado por referência à proeminente tribo de Judá). Da descendência deste povo, mais tarde, também nasceu Jesus Cristo, a partir de quem se formou a segunda crença monoteísta: o Cristianismo.

No século VI a.C., o povo hebreu foi submetido ao duro exílio babilônico, quando também ocorreu a primeira destruição do templo. Após setenta anos de cativeiro, apenas um terço da população que fora deportada retornou, o restante espalhou-se nas mais diferentes cidades do mundo antigo, fato que ficou conhecido como a diáspora (dispersão) judaica. A população que voltou do exílio, sob a liderança de Esdras e Neemias, teve a difícil tarefa de reerguer a nação, reconstruir os muros e o antigo templo.

Nos dias de Cristo, da população de 5,5 milhões de judeus, apenas um terço continuava a viver na sua própria pátria, estando esta sob o domínio político do Império Romano. Esta presença estrangeira na sua terra gerava grande desconforto e revolta ao povo que se considerava legítimo herdeiro daquelas possessões devido às promessas que o próprio Deus havia feito ao patriarca Abraão. Foi neste ambiente de insatisfação que, ano 66 d.C., eclodiu uma revolta armada dos partidos religiosos judaicos que buscavam a libertação da presença e dominação romana na Palestina. Após quatro anos de sangrentos combates, finalmente, as legiões romanas, lideradas pelo general Tito, conseguiram retomar o controle da cidade de Jerusalém, quando o templo acabou sendo completamente destruído pelos soldados romanos, cumprindo assim, o que Cristo havia predito em Mt.24:1,2.


Neste episódio, no ano 70, todos os judeus foram definitivamente expulsos da sua terra, ocasionando a segunda diáspora, passando este povo a existir, a partir daí, como nação sem território e sem Estado. Disperso agora pelo mundo, foi através da religião, centralizada nas sinagogas, que este povo procurou preservar os seus costumes, tradição e a identidade religiosa. Os sacrifícios de animais deixaram então de ser praticados: não havia mais o templo para este rito. Um rabino, por volta do ano 90, ao visitar ruínas da Cidade Santa, interpretou o texto de Oséias 6:6 (“pois misericórdia quero, e não sacrifício”), dizendo que a partir de então, a “caridade” iria substituir os sacrifícios até o dia em que aquele espaço sagrado fosse novamente restaurado.


No IV século, Constantino, imperador romano, se declarou cristão e reconheceu o Cristianismo como religião lícita em todo o império. Helena, mãe do imperador, tornou-se uma cristã piedosa e promoveu a construção de templos na Palestina, em locais considerados sagrados pelos antigos cristãos: o da Natividade em Belém, onde Jesus nascera, e também o do Santo Sepulcro, onde se acreditava que o corpo de Cristo havia sido sepultado. A partir daí, nos séculos seguintes, visitar a Palestina passou a ser o sonho de toda a cristandade, motivada pelos mais diferentes interesses: conhecer os lugares em que Jesus viveu; batizar-se no Rio Jordão; conseguir objetos supostamente sagrados (como, pedaços da cruz em que Cristo morrera, ou que tivessem sido utilizados por algum dos apóstolos, e ainda, pedras do Sinai, água do Rio Jordão, etc.), por acreditarem que os mesmos possuíssem poderes miraculosos contra enfermidades ou para proteção das casas e dos negócios; pagar votos ou penitências. Também foram construídos vários mosteiros nestes arredores. Neste tempo, os judeus tiveram nova permissão para visitar a Terra Santa, na prática, porém, houve dificuldades para ali se estabelecerem devido a presença em maioria de cristãos que lá se fixaram e ao estigma que os cristãos medievais cultivavam por eles. Tal embate era basicamente ocasionado por dois motivos: primeiro, eram diretamente responsabilizados pela morte de Jesus; segundo, haviam perseguido a igreja primitiva, proibindo os cristãos de se reunirem no templo de Jerusalém e também em muitas das suas sinagogas.

No século V, porém, com a tomada do Império Romano do Ocidente, pelos chamados “povos bárbaros”, ocorreram profundas turbulências políticas que afetaram o controle da Palestina pelos cristãos. Mas, foi partir do século VII d.C, quando surgiu a religião fundada por Maomé, que a disputa religiosa pela Cidade Santa se agravou ainda mais.

Formação e Desenvolvimento do Islamismo

No século VII d.C., surgiu, então, a terceira religião monoteísta, o Islamismo, fundada por Maomé, de origem árabe. Atribui-se a ascendência genealógica do povo árabe a Ismael, o filho de Abraão com a escrava egípcia Hagar. As diferentes tribos, que se formaram a partir deste povo, se tornaram politeístas (crença em vários deuses), ao contrário dos descendentes de Isaque. É de uma destas tribos que nascerá, no ano 570 d.C., em Meca, Maomé. Tendo ficado órfão muito cedo, Maomé foi criado por seu tio. Passou por grandes privações até tornar-se administrador dos bens da rica viúva Kadidja, com a qual casou em 595. Ao tornar-se mercador, viajou até a Síria, onde teve contato com as doutrinas monoteístas (crença em um só Deus), passando a ser por elas influenciado.

Foi a partir daí que começou então a se preocupar com as crenças do seu povo, fato que o levava a se retirar sistematicamente para as montanhas nas proximidades de Meca, onde, por volta do ano 610, afirmara ter tido visões e audições nas quais ouvia a voz de Deus e via o arcanjo Gabriel. Passou a estar convicto de ser um escolhido de Deus (nome que em árabe significa Alá) para ser o profeta que iria reconduzir o seu povo à verdadeira fé no verdadeiro Deus. Suas primeiras pregações, em que descrevia em cores vivas o fim do mundo, os castigos do inferno e as alegrias do paraíso, não obtiveram muito êxito. Conflitos de ordem econômica levaram-no a fugir para Medina, em 622, onde viria conquistar muitos seguidores. Como um líder messiânico, acreditava ser o escolhido para restaurar a verdadeira religião de Abraão; objetivava aperfeiçoar o Judaísmo e Cristianismo, nos quais via distorções. Tornou-se ferrenho adversário dos judeus quando estes rejeitaram suas pregações. Por ocasião da sua morte, em 632, Meca já havia sido por ele conquistada tornando-se a cidade sagrada do Islã e quase toda a Arábia já seguia seus ensinamentos. O Alcorão (ou Corão), que registra seus ensinos e revelações, veio a ser escrito algum tempo depois, tornando-se a verdade absoluta a ser obedecida e o fundamento do Islamismo (“islã” significa “submissão à vontade de Deus”).

Após a morte de Maomé, o movimento islâmico passou a ser liderado pelos califas ("sucessores"), e um objetivo maior passou a ser perseguido: fazer com que todos os homens reconheçam que Alá é o único Deus e Maomé o seu profeta. Para isto, formaram-se exércitos árabes, pois a verdade do Islã deveria ser propagada, ainda que para isto fosse preciso o auxílio da espada. Iniciava-se, desta forma, o que viria a se configurar em guerra santa. Em pouco mais de um século de existência, o Islamismo já havia feito grandes conquistas religiosas e territoriais. Uma delas foi Jerusalém, com seus lugares sagrados, invadida e dominada pelos árabes no ano 638, sob a liderança religiosa do califa Omar. Dois anos depois, com a conquista de Cesaréia e Gaza, toda a região estava sob o domínio do Islã. No início, não houve perseguição nem a cristãos nem a judeus que habitavam a Terra Santa pelo fato de serem também monoteístas. Ao entrar em Jerusalém, o califa Omar decretou: “os cristãos terão garantidos os seus bens e suas igrejas ... Os judeus podem morar em Jerusalém junto com os cristãos, desde que respeitem o Profeta e o Corão". Proibiu-se, entretanto, que os cristãos fizessem propagação da sua fé entre os muçulmanos e que estes viessem a se converter ao Cristianismo ou ao Judaísmo. Mais tarde, no lugar do antigo templo dos judeus, os árabes construiriam duas mesquitas, sendo a de Omar considerada o terceiro mais importante santuário do Islã, por acreditarem que daquele lugar o profeta Maomé ascendeu ao céu, logo depois de sua morte.

Toda a igreja imperial do Oriente sucumbiu perante o Islã: o Egito e o Norte da África, Damasco, Egito, Pérsia; parte da França e Espanha, também trocaram o Evangelho pelas leis do Corão. Os principais centros da fé cristã antiga, como Jerusalém, Antioquia (Síria), Alexandria (Egito) e Cartago (África), foram dominados por esta nova religião, restando apenas Roma e Constantinopla, sendo que esta última viria também a ser conquistada pelos turcos otomanos, em 1453.

Com o controle das regiões que haviam sido o berço da fé cristã, a partir do século VIII, cristãos e judeus passaram a ter cada vez mais dificuldades para realizarem peregrinações à Terra Santa. Por isso, a partir do século XI, os cristãos passaram a organizar movimentos conhecidos como “Cruzadas”, que duraram dois séculos (1096-1291), visando a libertação daqueles territórios. A organização da primeira cruzada se deu no ano de 1096, por convocação do Papa Urbano II. Foi constituída por um exército de cristãos que totalizou 20 mil homens e mulheres, os quais marcharam para Jerusalém, em uma caminhada que durou mais de dois anos. Finalmente, em 14 de julho de 1099, a cidade santa foi tomada. Como era uma sexta-feira, todos se lembraram da crucificação de Jesus e, numa atitude de vingança, promoveram uma matança sangrenta contra a população muçulmana que lá vivia. Um pequeno grupo de judeus também lá residente, refugiou-se em sua sinagoga, a qual acabou sendo incendiada pelos cristãos. Não houve sobreviventes.

Na verdade, o objetivo da libertação da Terra Santa jamais foi alcançado, pois tudo o que conquistaram voltaram rapidamente a perder. Ainda mais sete cruzadas foram organizadas sem que obtivessem maiores êxitos, pelo contrário, quase todas tiveram um fim trágico, principalmente para os cristãos do Ocidente. A partir daí, a Palestina ficou exclusivamente debaixo do controle islâmico, que fez definitivamente de Jerusalém um dos lugares sagrados de sua fé.

As atuais Disputas entre Judeus e Árabes na Terra Santa: O Monoteísmo em Conflito

Amparadas pela Inglaterra, desde o final do século XIX, grandes levas de judeus começaram a imigrar para a antiga Palestina, fato que se intensificaria ainda mais na década de 1940, quando o movimento nazista, liderado por Hitler, na Alemanha, provocou a Segunda Guerra Mundial, quando aproximadamente 6 milhões de judeus foram mortos nos campos de concentração. Com este “holocausto”, no final da guerra, em 1945, o mundo se sensibilizou com a situação em que se encontrava este povo. A partir daí, países como Estados Unidos e Inglaterra, lideraram um movimento para a reintegração de Israel em sua pátria, até que em 1947, a Organização das Nações Unidas (ONU), em uma reunião presidida pelo brasileiro Osvaldo Aranha, votou pela partilha da terra da Palestina em dois territórios, dando aos judeus o direito de reconstruírem o seu Estado. Desta forma, em 1948, foi criado o novo Estado de Israel , do qual, perto de 800 mil árabes saíram ou foram expulsos, formando um contingente atual de 2,5 milhões de refugiados vivendo em vários países. Em pouco tempo os judeus, que receberam uma região desértica, desenvolveram avançada tecnologia de irrigação, fazendo literalmente o “deserto florescer”, vindo a constituir-se em uma das grandes potências no cenário econômico mundial.

Nesta partilha de território feita com os árabes, Jerusalém e outros locais sagrados tiveram que também ser divididos, sendo que o exato lugar do antigo templo judaico continuara ocupado pela mesquita muçulmana de Omar. Daí porque os judeus passarem a empreender guerrilhas na Terra Santa visando expandir suas fronteiras, transferir para Jerusalém a capital do seu Estado, atualmente centrada em Telaviv, e reconquistar para sua fé o lugar do antigo templo, do qual só lhes resta, atualmente, o Muro das Lamentações, e ali novamente reconstruir um novo santuário aos moldes daquele. Em 1967, após intensos e sangrentos combates, a parte árabe da cidade de Jerusalém foi tomada pelos israelenses, desencadeando, assim, a revolta por parte dos palestinos (como são chamados os muçulmanos que lá vivem), o que transformou a Terra Santa num permanente palco de guerrilhas. Foi neste período que surgiu o líder Yasser Arafat, que criou, no final dos anos 60, a Fath, movimento guerrilheiro islâmico que se tornou a espinha dorsal da Organização para a Libertação da Palestina (O.L.P.). Nos anos 70 ele colocou a questão da Palestina no centro das atenções mundiais com uma sangrenta campanha terrorista contra Israel, e os países árabes chegaram a fazer um boicote nas exportações de petróleo. No final dos anos 80, desistiu do plano de riscar o Estado judeu do mapa.

As três únicas religiões monoteístas do mundo, Judaísmo, Cristianismo e Islamismo, têm em comum não apenas o fato de professarem a fé no mesmo Deus, chamado de "Javé" pelos judeus, de "Senhor" pelos cristãos, e de "Alá" pelos islâmicos, mas também o pertencimento a uma aliança feita com o mesmo patriarca, Abraão: árabes e judeus pela ascendência étnica, e cristãos pela herança espiritual, conforme análise feita pelo apóstolo Paulo em Gl.3:16, dizendo que o “legítimo descendente de Abraão é Cristo”. No relato bíblico de Gen.12, Deus fez promessas a este patriarca dizendo que a sua “descendência seria numerosa”, e de fato isto aconteceu, sobretudo no que diz respeito à família de fé monoteísta: as três únicas religiões monoteístas, isto é, que professam a fé em um só Deus, são conjuntamente responsáveis pelo maior número de seguidores no cenário religioso mundial: o judaísmo, professado pelos judeus, que totalizam hoje uma população de aproximadamente 15 milhões de pessoas, vivendo, em sua maioria, fora do Estado de Israel; a religião islâmica, que perfaz um total de 1,3 bilhão de adeptos no mundo; e o cristianismo, que, em todas as suas ramificações, reúne atualmente cerca de dois bilhões de fiéis. Curiosamente, estas três religiões estão agora sendo protagonistas do estado de medo e de tensão de um possível conflito mundial.

Pode-se dizer, concluindo, que a religião, que deveria promover a paz, a valorização da vida, e criar parâmetros para o respeito e a convivência humana, está não apenas dando um péssimo exemplo ao mundo ao pôr em risco a vida do Planeta em toda a sua biodiversidade, como também gerando a possibilidade de um terceiro conflito mundial, o que reconduziria a humanidade aos tempos de combates tribais, conforme o que temerosamente já alertara o físico Albert Einstein: “Não sei com que armas se lutaria na Terceira Guerra Mundial; na Quarta sim: com paus e pedras.”
 
Link do original contendo as fontes do autor:

 

sábado, 27 de julho de 2013

Com câncer terminal, co-criador dos 'Simpsons' se dedica à caridade


No dia 16 de maio, Sam Simon, co-criador da animação Os Simpsons, afirmou em entrevista que havia sido diagnosticado com câncer de cólon e disse que o médico lhe deu de três a seis meses de vida. Agora, mais um mês após a revelação, o produtor topou conceder uma nova entrevista, desta vez ao The Hollywood Reporter, sobre a doença, e agradeceu aos fãs pelas cartas e emails de apoio e desejando por melhoras.

"Basicamente tenho feito quimioterapia semana sim, semana não. Sinto todos os efeitos colaterais possíveis - fadiga, náusea - e a quimio impregna no meu corpo", disse Simon, que desde o início da animação de Matt Groening é conhecido por suas vultosas doações a instituições de caridade. De fato, em 1993 ele largou a atração para se dedicar a ajudar as pessoas e fundou a Sam Simon Foundation - que em 2011 valia perto de US$ 23 milhões - com o objetivo de resgatar pessoas famintas, alimentadas somente com comida vegetariana, e animais, entre cães, gatos, etc.

"Realmente não sei", ele responde sobre o montante que já doou para causas do tipo. O dinheiro vem basicamente dos milhões de dólares mensais que recebe pelo título de produtor executivo de Os Simpsons. Uma vez por semana, também ajuda nos roteiros da série Anger Management, estrelada por Charlie Sheen, exibida no canal pago FX.

"Nunca coloquei as mãos nessas coisas. Mas sempre tive sorte de achar ótimas pessoas para tocar esses negócios. Francamente, um dos prazeres da fundação é largá-la para as pessoas porque são algumas das pessoas mais bacanas da minha vida", ele afirmou.

Fonte: http://diversao.terra.com.br/gente/com-cancer-terminal-co-criador-dos-simpsons-se-dedica-a-caridade,4e4c0ac474c10410VgnVCM3000009acceb0aRCRD.html

domingo, 26 de maio de 2013

EM BUSCA DA CONSCIÊNCIA MEDITATIVA


Entenda como aproveitar a Meditação para se conhecer melhor
Hoje em dia há um esforço constante para alcançar coisas que nos parecem distantes ou que aparentam não fazer parte de nossa realidade. Qualquer movimento de busca que fazemos para algo que não está dentro de nós poderá ser infrutífero. A água segue sua própria natureza, sem conflito com a realidade da superfície que ela percorre. As pedras suportam frio, chuva e sol quente por séculos - e nada perturba sua natureza. Os animais vivem suas vidas satisfazendo seus instintos, sem lamentações descabidas. Por que os seres humanos carregam tanto conflito em sua curta existência? Não faz sentido.
Na verdade, carregamos conflitos por não entendermos nossa própria realidade, por vivermos uma realidade artificial e efêmera. O conflito não existe, mas permitimos que ele se aloje em nossa consciência e assim passe a existir e a sobrepujar tudo que brilha como realidade.
A busca por paz, por exemplo, nos afasta da verdadeira paz que reside dentro de nós. E o mesmo ocorre com a Meditação. O dimensionamento que é dado à consciência pode abarcar ou anular sua própria natureza. Por agirmos sem consciência da ação e dos fatores que desencadearão resultados, perdemos a dinâmica de nossa natureza; perdemos o sublime que há na vida e passamos a refletir apenas o que a mente projeta. Passamos a acreditar nas nuvens, tempestades e sombras que afogam o essencial da vida.
Meditar não é impedir ou disfarçar a existência de tais barreiras, mas tornar-se consciente delas e compreendê-las como parte do que somos. Estar consciente é o passo mais importante que deve ser dado ao iniciarmos esse caminho. Meditação não é um jogo mental simbólico onde criamos paisagens ou sentimentos, mas sim a consciência plena da realidade de nossa existência.

APROXIME-SE DA MEDITAÇÃO

A existência não se limita aos apelos do corpo e dos sentidos, não se limita ao transitório estado mental que molda os sentimentos e as emoções. A existência envolve os detalhes do que somos e do que estamos sendo - um longo percurso que nos mostra a evolução gradual pela qual estamos passando. A cada dia nos aproximamos mais do que sempre esteve perto, dentro de nosso ser, mas que não dávamos conta de sua presença. Meditação é voltar a consciência para este fato, para esta realidade que se descortina e se revela. E isso é possível quando estamos conscientes do que compõe nossa existência completa.
 A mente sente, pensa e deseja indiscriminadamente. A consciência observa e se transforma no processo de autoconhecimento: Meditação. Ficar parado por alguns minutos apenas observando a respiração e os batimentos cardíacos pode não dizer muita coisa para a mente, mas pode revelar dimensões desconhecidas da consciência.
A mente irá vagar em busca de sentido para o que ela capta, mas a consciência será apenas presença observadora de algo que sempre esteve ali, diante de sua simplicidade existencial, e que não foi possível ser notada pela complexa atividade instável da mente. A existência se revela no silêncio observador da consciência.
A mente se identifica e se envolve com o que surge em seu horizonte sensitivo - e cai presa da realidade que ela mesma moldou. A consciência se mantém indiferente ao que não é dela, em um estado de neutralidade observadora. A mente quer interagir; a consciência está apenas para ser e existir. Nada pode afetar a consciência, mas a mente se afeta por tudo que está ao seu redor e que fere sua fragilidade instável.
As invenções mentais não são permanentes. A Meditação ocorre além destas designações que estacionam a mente. A Meditação se efetua no campo da consciência. A mente pensa, mas a Meditação está além do pensamento, está no alcance infinito da consciência - a Meditação não é um fenômeno mental: é um processo da consciência.
A mente é um aglomerado de conceitos que molda a maneira de ver e interagir com o mundo, dentro de uma realidade que ela conceituou como verdade. A consciência é a essência que existe antes e depois dos conceitos - tanto reais quanto falsos. A mente é imagética e cáustica; a consciência é silêncio, amplitude. A imagem verbal limita a capacidade de perceber e existir, ao passo que a existência inclui os conceitos, mas está além deles. A existência é a consciência observadora que se apresenta consciente em todos os campos da realidade sensível.
A MENTE APRENDE COM A CONSCIÊNCIA
A mente não tem inteligência, ela apenas atua mecanicamente, moldada pelos padrões condicionados que imprimimos nela e, assim, repete os mesmos modelos, por muito tempo. A mudança somente ocorre quando se toma consciência de que não estamos agindo como deveríamos, como é o correto. Mas, quem define o certo e o errado? Há algum modelo que podemos usar sabendo que é diferente de um modelo que não devemos ter? De certa forma, a Meditação nos dá o modelo correto, à medida que o silêncio interior se intensifica a ponto de termos consciência clara e transparente do que nos faz bem e do que nos traz o mal. É a experiência da vida que poderá mostrar isto. É a Meditação que dará consciência do valioso que há na vida - aquilo que devemos cultivar e intensificar pelo simples fato de sabermos por realização que é bom para nós mesmos e para os outros.
Por isto, a Meditação não é uma restrição, um corte, uma renúncia pura e simples. Meditação é soma, acréscimo e descobrimento interior. Meditação é tomar consciência do que somos realmente. É tomar consciência do que não somos também."Meditação é soma, acréscimo e descobrimento interior. Meditação é tomar consciência do que somos realmente. É tomar consciência do que não somos também."
Um despojamento do que é irrisório, do que é efêmero e supérfluo, do que há de real e verdadeiro em nossas vidas. Meditação é se autodescobrir a cada instante, a cada dia, a cada mudança. Meditação é estar presente e entregue a todos os movimentos que ocorrem internamente e a todos os impulsos que damos para fora de nós, para o mundo e para a realidade que acreditamos - por isto nos lançamos. Meditar é acreditar na possibilidade de transformação a partir do singular que habita cada subjetividade, de cada ser.

SEJA CADA VEZ MAIS O QUE VOCÊ É

A Meditação não está separada do que somos - ela é o que somos. É ser consciente do que se é. Meditação é um movimento reflexivo do que somos, do que estamos deixando de ser e do que viremos a ser, consciente. Muitas vezes a Meditação não é uma técnica, mas a essência da técnica que desabilita qualquer necessidade de técnica: não temos que aprender a viver - todo ser vivo simplesmente vive. Alguns com mais habilidade, outros com menos intuição. Mas todos sabem viver dentro da realidade que lhes cabe. Não há técnica para se viver, não há mistério ou segredos para ser o que se é - simplesmente deve-se ser e viver. Assim é a Meditação: não é rotina, mas constante estado de presença, sem repetição. Uma pessoa que olha todos os dias o despontar do sol na alvorada e não nota a diferença que existe em cada amanhecer, na verdade nunca viu verdadeiramente o nascer do sol. Alguém que não note a variedade complexa que envolve cada movimento da respiração, não está pronto para viver - está atado aos padrões da mente repetitiva. A Meditação é uma quebra destes paradigmas.
 Por isto, a Meditação é um processo que nos revela a liberdade inerente. Enquanto a mente repete os padrões para nos prender, a consciência nos dá as lacunas onde a mente falha, pois não pode preencher todos os espaços - tudo é preenchido pela consciência. A mente não prenche, apenas repete; e repete até mesmo a sensação de uma suposta liberdade, mas é a repetição de um estado vivido de liberdade, não é a verdadeira liberdade, é a sombra de uma experiência de liberdade vivida no passado ou prometida para um futuro. Consciência meditativa é liberdade agora, presente e eterna. Se não for isto, não é Meditação. Pode ser qualquer outra coisa, algum outro nível de experiência psicológica, mas não Meditação.
Meditação é a entrega plena ao momento que se vive, que existe em sua plenitude.

sexta-feira, 12 de abril de 2013

Espiritualidade por Sérgio Cortella


Mario Sergio Cortella  é um filósofo brasileiromestre e doutor em Educação pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, onde também é professor-titular do Departamento deTeologia e Ciência da Religião e da pós-graduação em Educação, além de professor-convidado da Fundação Dom Cabral e do GVpec da FGV-SP.
Foi secretário municipal de Educação de São Paulo (1991-1992), durante a administração de Luiza Erundina.
Fez o programa "Diálogos Impertinentes" na TV PUC, no Canal Universitário.
Cortella é autor de:
A Escola e o Conhecimento
Nos Labirintos da Moral, com Yves de La Taille
Não Espere Pelo Epitáfio: Provocações Filosóficas
Não Nascemos Prontos!
O que a Vida me Ensinou - Viver em Paz para morrer em Paz.

Nesse vídeo ele fala sobre espiritualidade e essa é a nossa dica pra você!


quinta-feira, 31 de janeiro de 2013

Vegetarianos têm 32% menos risco de sofrer do coração


Coração verde
Deixar de lado a carne, incluindo peixe, em favor de uma dieta vegetariana pode ter um efeito dramático sobre a saúde do seu coração.
Um estudo com 44.500 pessoas na Inglaterra e na Escócia mostrou que os vegetarianos têm uma propensão 32% menor de morrer ou precisar de tratamento hospitalar em decorrência de doenças cardíacas.
Os cientistas acreditam que as diferenças nos níveis de colesterol, na pressão arterial e no peso corporal estão por trás da melhor saúde dos vegetarianos.
A chegada de sangue ao coração fica bloqueada por depósitos de gordura nas artérias que alimentam o músculo cardíaco. Isso pode causar angina ou até mesmo levar a um ataque cardíaco se os vasos sanguíneos ficarem completamente bloqueados.
Os resultados foram publicados no American Journal of Clinical Nutrition.
Melhor saúde dos vegetarianos
Os cientistas da Universidade de Oxford analisaram dados de 15.100 vegetarianos e 29.400 pessoas que comem carne e peixe.
Ao longo de 11 anos, 169 delas morreram de doenças cardíacas e 1.066 necessitaram de tratamento hospitalar - a maior parte delas comedores de carne e peixe.
"A mensagem principal [do estudo] é que a dieta é um importante determinante da saúde do coração,", disse a Dr. Francesca Crowe, coordenadora do estudo.
Segundo ela, "as dietas são bastante diferentes. Os vegetarianos provavelmente têm uma menor ingestão de gordura saturada, por isso faz sentido que eles tenham um menor risco de doença cardíaca".
Os resultados mostraram que os vegetarianos têm pressão arterial mais baixa, menor nível de colesterol "ruim" e são mais propensos a ter um peso saudável.


domingo, 13 de janeiro de 2013

Livro sagrado dos maias narra criação do mundo

O Popol Vuh é livro sagrado dos maias, referência histórica da espiritualidade, filosofía e identidade dos povos descendentes dessa civilização

Cidade da Guatemla - Antes de a Terra existir, tudo era silêncio e escuridão, só existiam o céu e o mar em calmaria, até que os progenitores Tepeu e Gucumatz chegaram a um acordo e criaram as árvores, os animais e o homem.
Assim foi concebido o mundo segundo o Popol Vuh, livro sagrado dos maias, referência histórica da espiritualidade, filosofía e identidade dos povos descendentes dessa civilização na América Central e sul do México, e cujo calendário está despertando temores apocalípticos em muita gente.
Segundo o Popol Vuh, os criadores queriam ter alguém que os louvasse. Então fizeram um homem de barro. Mas ele não podia andar, nem se multiplicar e se desfez, narra o livro que se acredita que foi escrito em meados do século XVI no idioma maia k'iche'.
Então os criadores o fizeram com madeira. Mas os homens, ainda que se multiplicassem, não tinham entendimento e se esqueceram de seus progenitores, e por isso foram destruídos.
"Chegou o tempo de amanhecer, de terminar a obra", disseram Tepeu e Gucumatz. Então Yac (gato-montês), Utiú (coiote), Quel (maritaca) e Hoh (corvo) levaram o milho branco e amarelo e de suas espigas foram criados os homens, relata o texto.
O Popol Vuh, que significa Livro do Conselho ou Livro da Comunidade, fala da visão do mundo e espiritualidade dos maias que habitaram o sul do México, Guatemala, Honduras, El Salvador e Belize, cujos descendentes comemoram na próxima semana o fim de uma era de 5.200 anos, segundo seu calendário.
Algumas interpretações fizeram crer que esse dia será o fim do mundo, algo que os mesmos líderes indígenas e especialistas desmentem. Apesar disso, atrai a atenção para tudo relacionado à cultura maia.
Apesar de, desde 1972, o Popol Vuh ostentar o título de Livro Nacional da Guatemala, apenas em agosto passado ele foi declarado pelo governo como Patrimônio Cultural Intangível da Nação.
Sua origem é um enigma e segundo historiadores a primeira versão do texto, elaborada na língua k'iche' por indígenas cristianizados, permaneceu oculta até 1701, quando o sacerdote espanhol Francisco Ximénez fez uma tradução para o castelhano.
O manuscrito de Ximénez contém o texto mais antigo conhecido do Popol Vuh, mas se desconhece o nome do autor essa primeira versão.
O Popol Vuh também conta as aventuras dos deuses gêmeos Hunahpú e Ixbalanqué, que venceram em um jogo de bola os senhores de Xibalbá, e por isso foram convertidos no Sol e na Lua.
O livro maia atualmente é encontrado na biblioteca Newberry, em Chicago, Estados Unidos, mas deputados guatemaltecos anunciaram em 13 de dezembro que vão tentar recuperá-lo para expô-lo em um museu no município indígena de Chichicastenango, no oeste do país.

sábado, 1 de dezembro de 2012

Médico e teólogo, autor relaciona espiritualidade e saúde física



Harold G. Koenig, médico e teólogo, entra no debate sobre os limites e confluências de ciência e espiritualidade. Em "Medicina, Religião e Saúde", usa pesquisas recentes para apresentar a importância das emoções sobre o sistema imunológico, a longevidade e outras influências na saúde física e mental. 

Sobre a diferença de termos --espiritualidade e religião--, escreve o autor que "essa nova versão de espiritualidade evoluiu para incluir aspectos da vida que não têm nada a ver com religião, além de, muitas vezes, excluir a religião por completo, como na afirmativa 'sou espiritual, não religioso'. Isso pode tornar a espiritualidade indistinguível de conceitos seculares." 

Koenig expõe fundamentos e respostas para as polêmicas criadas pelo embate entre fé e razão. 

"A espiritualidade pode ser usada proveitosamente de duas maneiras distintas: mais restrita na pesquisa e mais ampla no atendimento ao paciente", afirma no livro. 

A edição é voltada para o público leigo, mas inclui estudos recentes e alguns relatos de casos e trata de mostrar quais são as tendências dessa área. 

Diretor do Centro para Teologia, Espiritualidade e Saúde, professor de psiquiatria e ciências do comportamento da Universidade de Duke, nos EUA, e graduado em medicina na Universidade da Califórnia, Koenig assina mais de 40 títulos sobre o tema. 

Abaixo, leia a introdução de "Medicina, Religião e Saúde: O Encontro da Ciência e da Espiritualidade"



Introdução        
   
A SENHORA HARRIS MORREU ontem aos 101 anos de idade. Ela estava vivendo em uma casa de repouso, mas a família disse que ela permaneceu alerta até o fim. Em seus últimos dias, como fizera durante toda a vida, tentou consolar e incentivar parentes e amigos - mesmo estando doente. Ela destacava as boas qualidades deles. Expressava que alegria era ver alguém e que futuro especial aguardava cada um deles. A família disse que ela estava cantando um cântico religioso quando sua voz ficou mais fraca, a respiração mais lenta até, finalmente, parar. A senhora Harris deixou um leve sorriso no rosto, um sorriso ao qual a família tinha se acostumado sempre que ela estava muito feliz. 

Quando a senhora Harris fez cem anos, perguntaram a ela qual era o segredo de uma vida tão longa. Sem pestanejar, respondeu que era sua fé, sua família e o fato de não beber nem fumar, nessa ordem. E a ordem era importante, ela enfatizava. 

Muitos médicos, assim como eu, já conheceram uma "senhora Harris" e, embora possamos imaginar encontrá-la em qualquer estado ou cidade, em um hospital ou casa de repouso, ela representa um benchmark de saúde da vida real, tanto física quanto mental. Seu tipo de história, ao qual as pessoas ligam crenças e comportamentos à saúde, é o tópico central deste livro. A senhora Harris é baseada em minhas duas décadas e meia de experiência com pacientes e com participantes de pesquisas, e usarei a "história" dela ao longo do livro para demonstrar os tipos de encontros que tive. As respostas da senhora Harris ilustram as próprias experiências da vida real que muitíssimas pessoas relatam - experiências que são, muitas vezes, ignoradas pelos profissionais da saúde. 

As páginas seguintes abordam um terreno amplo, e nem todo ele é plano e nivelado. Nossas informações sobre os efeitos da religião e da espiritualidade sobre a saúde física e mental ainda são incompletas. A discussão desse tópico também é nova na medicina moderna. Por consequência, há muitas opiniões sobre o que realmente sabemos nesse campo, o que deve ser feito sobre isso e como fazê-lo. Indicarei onde há controvérsia sobre determinada descoberta ou aplicação, mas também argumentarei a favor de uma conexão entre religião e saúde quando a predominância das evidências, junto com o bom-senso e o raciocínio lógico, sustentar tal ligação. Este livro, portanto, não será escasso em polêmicas, e espero que o leitor fique intrigado. 

Organizei o material em quatro etapas, sendo que uma se desenvolve sobre a outra. Comecei definindo os termos religião e espiritualidade, demonstrando como a pesquisa sobre o relacionamento com saúde e medicina cresceu drasticamente e se tornará essencial a uma possível crise futura da saúde pública. A seguir, apresento o argumento de que religião e espiritualidade podem, de fato, afetar a saúde de uma forma detectável pela ciência. Em outras palavras, é possível demonstrar que os aspectos psicológicos, sociais e religiosos da vida humana podem afetar o corpo físico. 

Após ter apresentado o argumento de que tais caminhos são plausíveis, investigarei mais a fundo seis áreas específicas da saúde humana que possivelmente são afetadas pelo envolvimento religioso. Essas são as áreas em que alguém como a senhora Harris era bastante afortunado, graças a uma boa perspectiva da vida, hábitos saudáveis e um corpo forte. As seis áreas são: saúde mental, funções imunológicas e endócrinas, função cardiovascular, estresse e doenças relacionadas a comportamento, mortalidade e deficiência física. Depois de esclarecer como a religião pode afetar a saúde e explorar as evidências científicas que dão suporte a tais alegações, examinarei a aplicação desse conhecimento ao tratamento de pacientes em contextos clínicos. Este livro é finalizado com um apêndice que lista recursos para o estudo posterior de religião, espiritualidade e saúde. 

Cada um dos capítulos que se seguem analisará pesquisas passadas e atuais, mas também conterá uma questão central que desejo argumentar ou, ao menos, deixar aberta para discussão. No Capítulo 1, por exemplo, mostrarei que há opiniões extremamente divergentes sobre a definição dos termos religião e espiritualidade. O termo espiritualidade é amplo e permite que as pessoas deem suas próprias definições. Essa abrangência é útil em ambientes clínicos em que os médicos querem ser sensíveis à ampla variedade de crenças das pessoas. Porém, no âmbito da pesquisa, esses termos devem ser definidos com maior precisão para o estudo objetivo de seu impacto na saúde, e tal exatidão é o que sempre defenderei. Do contrário, normalmente usarei religião e espiritualidade de forma intercambiável, referindo-me ao mesmo aspecto da experiência humana. 

No Capítulo 2, apresento a hipótese de que essa área de pesquisa em rápido crescimento será mais importante no futuro, à medida que mais limitações são impostas sobre a assistência médica, sobretudo fatores demográficos e financeiros. As populações em envelhecimento nos países desenvolvidos e os custos galopantes de cuidados à saúde em todo o mundo são as duas forças que motivam esse aumento de tensão. Também prevejo uma maior função de comunidades de fé em oferecer serviços de saúde, não só em hospitais, mas também em termos de educação de saúde, suporte social e atendimento de longo prazo. 

Os Capítulos 3 e 4 tentam demonstrar que fatores psicológicos e sociais influenciam a saúde do corpo físico. Não muito tempo atrás, essa era uma ideia controversa. Em um editorial de 1985, por exemplo, Marcia Angell, ex-editora do New England Journal of Medicine, afirmou que "nossa crença na doença como um reflexo direto do estado mental é, em grande parte, folclore"1. Desde que esse editorial foi publicado, muitos estudos em alguns dos melhores periódicos de ciência do mundo provaram que ela estava errada. Hoje, existe um campo que vem crescendo bastante, chamado psiconeuroimunologia - intimamente relacionado à "medicina psicossomática" - que analisa como as experiências mentais e sociais podem afetar aspectos da saúde física. 

Minha tese básica nos Capítulos 5 a 10 é a de que a religião tem o potencial de influenciar a saúde mental e física. No Capítulo 5, abordo religião e saúde mental cobrindo áreas da experiência humana como depressão, ansiedade e emoções positivas. O Capítulo 6 examina associações entre religião, o sistema imunológico e as funções endócrinas, com enfoque nas relações em diferentes faixas etárias e em diferentes doenças, como fibromialgia, câncer de mama metastático e HIV/AIDS. No Capítulo 7, exploro os efeitos da religião sobre o coração e o sistema circulatório (reatividade cardiovascular, pressão arterial, ritmos autonômico e cardiovascular) e sobre comportamentos, como dieta, exercícios e tabagismo, que afetam as funções fisiológicas. 

O Capítulo 8 examina as consequências clínicas do envolvimento religioso sobre os índices de doença arterial coronariana e desfechos pós-cirurgia cardíaca, bem como sobre enfermidades comuns, como câncer, declínio da memória relacionado à idade, doença de Alzheimer e diabetes. 

No Capítulo 9, reviso diversos estudos de populações grandes nos Estados Unidos, na Europa e na Ásia que examinam a relação entre envolvimento religioso e longevidade. Essa é uma área bastante contestada, e analisarei as complexidades de interpretar tais estudos, mas argumentarei que, embora tenham intensidade apenas moderada, as evidências a favor de religião e vida mais longa têm um enorme impacto na saúde pública. O Capítulo 10 aborda o que acredito ser a questão mais importante: não quanto tempo vivemos, mas a qualidade de nossa vida e a capacidade de realizar atividades físicas que fazem a vida valer a pena. Doenças de longa duração que persistem mais tarde na vida cobram um preço emocional e têm um impacto na capacidade de trabalhar, na vida social e nas atividades recreativas. Também discutirei a relação entre religião e deficiência em jovens com problemas de saúde adquiridos devido a doença prematura, acidentes ou guerra. 

O livro termina com aplicações dessas novas pesquisas. No Capítulo 11, argumento que as descobertas de pesquisa têm implicações para os profissionais da saúde, sobretudo no reconhecimento das muitas formas em que crenças religiosas podem influenciar a assistência médica, a adesão do paciente e as decisões médicas2. São motivos importantes para que os profissionais da saúde prestem atenção às necessidades espirituais de pacientes e estejam cientes dos limites e das limitações nessa área. Descrevo como e quando a espiritualidade pode ser integrada no atendimento ao paciente e quais são as prováveis consequências. Finalmente, o apêndice oferece resumos (a) dos principais estudos de pesquisa originais sobre religião e saúde; (b) de artigos de revisão sobre a pesquisa de religião e saúde; (c) de livros sobre religião, espiritualidade e saúde para pesquisadores, clínicos e público em geral; (d) de sites e centros acadêmicos de atividade em religião, espiritualidade e saúde nos quais podem ser encontrados recursos adicionais. 

O objetivo principal de Medicina, religião e saúde é integrar parte das pesquisas recentes sobre religião, espiritualidade e saúde, fazendo isso de maneira relativamente concisa e em formato legível. Em razão desse enfoque, não se tentou apresentar uma discussão mais completa das questões teológicas. Lembre-se, no entanto, de que essa pesquisa levantou uma série de questões teológicas sérias que também precisam ser abordadas. Uma revisão científica abrangente e uma discussão teológica da conexão entre religião e saúde serão apresentadas em um volume muito maior, que está atualmente sendo preparado3. Contudo, por enquanto, vamos explorar as mais recentes evidências científicas ligando religião, espiritualidade e saúde e investigar o que isso significa para médicos, pacientes e aqueles que estão saudáveis e desejam permanecer assim. 

Quando disse que os motivos de sua longa vida eram fé, família e ausência de álcool e de cigarros - nessa ordem -, a senhora Harris estava tentando comunicar algo sobre o essencial à saúde e ao bem-estar que aprendera durante sua longa e satisfatória vida. Ela falará conosco mais algumas vezes nas páginas seguintes, conforme nos aprofundamos nesse tópico.