Obs: A palavra Espiritualidade não deve ser confundida com Espiritismo, usamos essa palavra no sentido de que a espiritualidade "traduz uma dimensão do homem, enquanto é visto como ser naturalmente religioso, que constitui, de modo temático ou implícito, a sua mais profunda essência e aspiração".

Fonte: Wikipedia: http://pt.wikipedia.org/wiki/Espiritualidade

sexta-feira, 30 de março de 2012

Alguns Ensinamentos de Buda


Ser um Buda é alcançar o estado de «Iluminação». Siddharta Gautama conseguiu a iluminação naquela noite gloriosa, após vencer Mara. Ele direcionou a mente à destruição completa dos 4 venenos, emancipando-se totalmente do veneno da concupiscência, do veneno do amor à existência (o apego), do veneno da falsa opinião (engano, superstição) e do veneno da ignorância (ignorância das nobres verdades).
O processo de Gautama antes de chegar à Iluminação já conhecemos: renúncia às comodidades, que tanto naquele tempo como agora nos mantém atados e adormecidos, funcionando sempre como autômatos, indo do prazer à dor, do gozo ao sofrimento, do berço à tumba, da morte ao retorno à vida, sem nunca sair da tediosa roda de nascimentos e mortes, da roda do Samsara. Ele se propôs sair da roda do Samsara e também ensinar os demais seres como sair dela. Descobriu que o que nos prende aqui, a esta vida, são os desejos produzidos pelos múltiplos agregados que todos levamos em nosso interior. Só eliminando esses agregados poderemos ter acesso à dita de um coração tranqüilo.
«Chegar à compreensão de ditos agregados é indispensável para a iluminação de nossa psique».
A psique é a parte anímica do nosso corpo físico na qual vão acumulando-se pouco a pouco os nossos desejos, conformando entidades estranhas que, como maus filhos, demandam continuamente alimentos para seguir subsistindo, incitando-nos assim a cometer as mesmas ações negativas que num primeiro momento realizamos.
Buda viu como repetimos os mesmos atos durante vidas e vidas, mantendo-nos encarcerados pelas nossas próprias criações egóicas, sem poder experimentar a verdadeira felicidade do Ser, que é o estado próprio de um homem que se uniu com o seu Buda íntimo.
Sabemos também que para despertar há que manter-se no meio.
Nem prazer nem dor, nem em uma grande alegria nem em uma grande tristeza... Sempre no equilíbrio. Isso, pouco a pouco nos conforma uma mente sã e harmoniosa, capaz de compreender toda sombra egóica até no último rincão escuro de nossa mente.
Buda sempre dizia: «Busca a iluminação e o resto te será dado por acréscimo».
Como vimos, o maior inimigo da Iluminação é o Eu... O Eu é o nó fatal no fluir da existência, da vida livre em seu movimento.
Uma vez dissolvido o Eu ou os agregados psicológicos, como são chamados pelos Tibetanos, será possível viver de instante em instante e experimentar o Real.
Para o Budismo é essencial algo que é o que se denomina as Quatro Nobres verdades.
AS 4 NOBRES VERDADES
A Primeira Nobre Verdade é que há sofrimento. A doença é sofrimento, o nascer é sofrimento, a velhice é sofrimento, a morte é sofrimento, a dor e o desespero são sofrimentos, o contato com o desagradável é sofrimento, o desejo insatisfeito é sofrimento, os cinco agregados da mente e do corpo que produzem os desejos são sofrimentos.
A Segunda Nobre Verdade é que o sofrimento se origina nos desejos que causa o renascimento e estão acompanhados pelo prazer sensual, buscando a satisfação neste plano físico e além, ou seja, a ânsia de prazeres, a ânsia de nascer de novo, a ânsia de ser aniquilado.
A Terceira Nobre Verdade é que a extinção do sofrimento é a verdadeira ausência de paixão, a destruição completa dessa ânsia de prazeres, dessa ânsia de nascer e dessa ânsia de ser aniquilado. O não mais albergar essa ânsia provoca a extinção do sofrimento.
A Quarta Nobre Verdade é o caminho que conduz à extinção e supressão da dor, é a via que leva à eliminação de Mara e à contemplação da Verdade Última do Ser e, portanto, à Suprema Felicidade sem Limites.
Este caminho, segundo Buda, era óctuplo e veio se a chamar o NOBRE CAMINHO ÓCTUPLO.
Este nobre caminho há que ser percorrido em seus 8 pontos sem se descuidar de um único, só assim é possível se converter em Buda:
1.       VISÃO CORRETA.
É ver de acordo com realidade de que existe o sofrimento, a sua causa, o seu fim e o caminho que conduz a esse fim.
2.      PENSAMENTO CORRETO.
Pensamento livre de sensualidade, má-vontade e crueldade.
3.      LINGUAGEM CORRETA.
Linguagem livre de engano, insulto, malícia e estupidez.
4.      AÇÃO CORRETA.
Ação livre de assassinato, roubo, adultério, mentira e entorpecentes.
5.      VIDA CORRETA.
Quando o discípulo evita um comércio perverso (adivinhação, usura, armas, seres vivos, carne, entorpecentes e venenos) e ganha a vida por meios retos e honoráveis.
6.      ESFORÇO CORRETO.
Com o esforço CORRETO se impedem os pensamentos negativos e se desenvolvem os positivos.
7.      ATENÇÃO CORRETA.
Quando o devoto vive atento e sabe que o corpo, os sentimentos, a mente e os pensamentos são impermanentes e estão submetidos à decadência.
8.     CONCENTRAÇÃO CORRE.
É a unidirecionalidade da mente mediante exercícios respiratórios e meditações especiais.
Os Budas só ensinavam o caminho. Nós mesmos temos que fazer o esforço.
Não cometer ofensas morais, fazer o bem e limpar o próprio coração: esse é o ensinamento de todos os Budas.
Após refletir sobre as 4 nobres verdades e o caminho que conduz à extinção do sofrimento, Buda nos diz as DOZE CAUSAS DO ETERNO RETORNO, a origem do sofrimento ou a explicação do porque voltamos a nascer uma e outra vez neste reino ou em outros
1.       Existe a ignorância.
2.      A ignorância condiciona as formações mentais.
3.      As formações mentais condicionam a consciência.

4.      A consciência condiciona a mente e o corpo.
5.      A mente e o corpo condicionam os sentidos.
6.      Os sentidos condicionam o contato.
7.      O contato condiciona a sensação.
8.     O sentimento condiciona o desejo.
9.      A ânsia condiciona o apego.
10.  O apego condiciona o processo de chegar a Ser.
11.   O processo de chegar a ser condiciona o renascimento.
12.  renascimento condiciona a decadência e a morte, e também a pena, lamentação, dor e desespero.
Para entender o profundo significado destas doze causas do eterno retorno há que apelar à gnose de todos os tempos.
Temos que saber que o último elo é a ignorância.
A ignorância é tudo contrário ao conhecimento, e é indubitável que conhecimento é Gnose, Gnose é a chama da chama, com a qual podemos fazer luz até no mais distante rincão do Universo. Gnose é o fogo devorador que consome toda ignorância e é capaz de oferecer à Essência a Verdade Última e a liberação total de todo encadeamento à Roda do Samsara.
Tal e como viu Sakyamuni, a origem da causa do nosso sofrimento coincide grandemente com as diferentes Regiões Sefiróticas do Universo.Vejamos de que maneira:
1.       Há ignorância.
A Chispa Virginal emanada do Absoluto não tem Auto-realização e Autoconsciência de si mesma, portanto, precisa adquirir experiência e necessita ir se desdobrando plano após plano.
A ignorância condiciona as formações mentais.
Hermes Trismegisto diz: «Tudo é mente, o universo é mental», portanto, os seguintes desdobramentos da Mônada ou Chispa Virginal já estão condicionados pela ignorância e arrastam visão subjetiva do próprio Universo que nos rodeia.

Continua...

Filmes espiritualistas ON LINE!


Hoje trago uma dica muito interessante para que gosta de filmes com conteúdos espiritualistas. Recebi a indicação de um site que possui uma lista de filmes para assistir on line de graça. Espero que todos possam aproveitar essa oportunidade.

Acessem: http://www.saudadeeadeus.com.br/

Abraços!

sábado, 17 de março de 2012

Mensagem de José de Paiva Netto

Democracia Religiosa

Paiva Netto*
Vinte e um de janeiro, Dia Mundial da Religião, oferece-nos uma oportunidade para refletir sobre a importância de vivermos em todo o planeta a Democracia Religiosa — a liberdade de cada um de seguir o caminho que achar melhor para si, procurando não conflitar com quem quer que seja por causa de crença ou descrença. Vivamos a Fraternidade Ecumênica. É o que igualmente pensava o saudoso papa João Paulo II (1920-2005), porquanto afirmou em viagem apostólica à Índia, em novembro de 1999: “A liberdade de praticar ou mudar de religião deve ser considerada um direito fundamental do ser humano”.

Oportuno, então, o significativo passo dado recentemente pelo governo federal, por intermédio da ministra Maria do Rosário (Secretaria de Direitos Humanos), ao lançar a campanha “Democracia, Paz, Religião — Respeite”. Outra iniciativa é o Comitê de Diversidade Religiosa, criado para facilitar o diálogo entre representantes de diferentes religiões e entre pessoas que não têm religião. Com isso, promove-se o debate sobre políticas públicas com foco no reconhecimento de diferenças, na promoção da diversidade e principalmente na superação da intolerância. A Cruzada de Religiões Irmanadas, que Alziro Zarur (1914-1979) deu início na década de 1950, foi realmente um decisivo avanço para se alcançar essa Paz que todos almejam.

Alcione Giacomitti
GIACOMITTI NA LBV
Estando em Porto Alegre para realizar uma palestra, o escritor e conferencista Alcione Giacomitti aproveitou para visitar o Centro Comunitário de Assistência Social Alziro Zarur, da Legião da Boa Vontade, em Glorinha. Ao lado de sua esposa e dos filhos, ele viu de perto os programas e projetos desenvolvidos no conhecido Templo da Natureza e da Criança.
Ao portal www.boavontade.com relatou: “O local é maravilhoso e muito bem elaborado. Toda essa estrutura atende às expectativas das pessoas que aqui estão. (...) A espiritualidade presente em cada árvore, no pomar, a forma como as construções estão edificadas, dão um bem-estar na alma. Quando olhamos para as crianças, percebemos o sorriso nas faces. O trabalho do Irmão Paiva Netto não poderia ser melhor, graças a Deus”.

Grato, Giacomitti, pela visita que muito me honrou, juntamente com sua querida família. Obrigado também pelo belo quadro de Maria Santíssima, com a singela dedicatória: “Não tenho dúvida de que nossa amizade transcende os limiares do reino físico, da matéria. Meu agradecimento pelo livro ‘Jesus, o Profeta Divino’, que é extraordinário. Sua mensagem é fundamental para os dias em que estamos vivendo”.
Centro Comunitário de Assistência Social Alziro Zarur, o Templo da Natureza e da Criança.

OUTDOORS DIVULGAM A LBV
Graças a uma iniciativa do grupo LZ de Comunicação, por intermédio do sr. Felipe Curi (representante comercial da empresa), e do grupo Zaffari, na pessoa do diretor Airton Zaffari, ruas de Porto Alegre e da região metropolitana estão divulgando, neste mês de janeiro, em belos outdoors, a pioneira campanha “Natal Permanente da LBV – Jesus, o Pão Nosso de cada dia!”, que tem o apoio de artistas e amigos da Instituição. Em 2011, a Legião da Boa Vontade atendeu mais de 50 mil famílias com cestas de alimentos não perecíveis em todo o país. As doações contemplaram aqueles que, ao longo do ano, participaram dos programas socioeducacionais da LBV.
Centro Comunitário de Assistência Social Alziro Zarur, o Templo da Natureza e da Criança.


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*José de Paiva Netto, escritor, jornalista, radialista, compositor e poeta. É diretor-presidente da Legião da Boa Vontade (LBV), membro efetivo da Associação Brasileira de Imprensa (ABI), da Associação Brasileira de Imprensa Internacional (ABI-Inter). Filiado à Federação Nacional dos Jornalistas (Fenaj), à International Federation of Journalists (IFJ), ao Sindicato dos Jornalistas Profissionais do Estado do Rio de Janeiro, ao Sindicato dos Escritores do Rio de Janeiro, ao Sindicato dos Radialistas do Rio de Janeiro e à União Brasileira de Compositores (UBC). Integra também a Academia de Letras do Brasil Central.

Confiram o matéria original: http://www.lbv.org/index.php/artigos-de-paiva-netto/3623-democracia-religiosa

Ensinamentos do Dalai Lama

Dimensões da Espiritualidade

Irmãos e irmãs, gostaria de falar sobre valores espirituais definindo dois níveis de espiritualidade. Como seres humanos, nosso objetivo básico é ter uma vida feliz; todos queremos ser felizes. É natural, para nós, buscar a felicidade. Esse é nosso objetivo de vida. A razão é completamente clara: quando perdemos a esperança, o resultado é que nos tornamos deprimidos e talvez até suicidas. Portanto, nossa existência é fortemente enraizada na esperança. Embora não haja garantia de que o futuro chegará, é porque temos esperança que somos capazes de continuar vivendo. Podemos dizer que o propósito de nossa vida, nosso objetivo de vida, é a felicidade.

Seres humanos não são produzidos por máquinas. Somos mais do que apenas matéria; temos sentimento e experiência. Por essa razão, somente conforto material não é suficiente. Necessitamos algo mais profundo, o que usualmente chamo de afeição humana, ou compaixão. Com afeição humana, ou compaixão, todas as vantagens materiais que temos à nossa disposição podem ser muito construtivas e produzir bons resultados. Contudo, sem afeição humana, somente vantagens materiais não nos proporcionarão satisfação, nem produzirão qualquer medida de paz mental ou felicidade. De fato, vantagens materiais sem afeição humana podem até mesmo criar problemas adicionais. Portanto, afeição humana, ou compaixão, é a chave para a felicidade humana.

O primeiro nível da espiritualidade, para os seres humanos de todos os lugares, é a fé em uma das muitas religiões do mundo. Penso que há um importante papel para cada uma das principais religiões mundiais, mas para que elas façam uma contribuição efetiva em benefício da humanidade do lado religioso, há dois fatores importantes a serem considerados. O primeiro é que praticantes individuais das várias religiões — isto é, nós mesmos — devem praticar sinceramente. Ensinamentos religiosos devem ser uma parte integral de nossas vidas; eles não deveriam estar separados de nossas vidas. Algumas vezes, vamos a uma igreja ou um templo e rezamos uma prece, ou geramos algum tipo de sentimento espiritual e, quando saímos, nada daquele sentimento religioso permanece. Essa não é a forma adequada de praticar. A mensagem religiosa deve estar conosco onde quer que estejamos. Os ensinamentos da nossa religião devem estar presentes em nossas vidas de forma que, quando realmente precisamos ou pedimos bençãos ou força interior, mesmo nessas horas esses ensinamentos estarão lá; eles estarão lá quando passarmos por dificuldades porque estão constantemente presentes. Somente quando a religião torna-se uma parte integral de nossas vidas é que ela pode ser realmente efetiva.

Também precisamos experienciar mais profundamente os significados e valores espirituais de nossa própria tradição religiosa — precisamos conhecer esses ensinamentos não só a nível intelectual, mas também, de forma cada vez mais profunda, através de nossa própria experiência. Algumas vezes entendemos diferentes idéias religiosas num nível muito superficial ou intelectual. Sem um sentimento profundo, a eficácia da religião torna-se limitada. Portanto, devemos praticar sinceramente, e a religião deve tornar-se parte de nossas vidas.

O segundo fator refere-se mais à interação entre as várias religiões mundiais. Hoje, por causa da crescente mudança tecnológica e a natureza da economia mundial, estamos muito mais dependentes uns dos outros do que antes. Diferentes países e continentes tornaram-se mais intimamente associados uns com os outros. Na realidade, a sobrevivência de uma região do mundo depende da de outras. Portanto, o mundo tornou-se mais próximo, muito mais interdependente. Como conseqüência, há mais interação humana. Sob tais circunstâncias, a idéia de pluralismo entre as religiões mundiais é muito importante. Em tempos passados, quando as comunidades viviam separadas uma das outras e as religiões surgiam num relativo isolamento, a idéia que havia só uma religião era muito útil. Mas agora a situação mudou, e as circunstâncias são inteiramente diferentes. Agora é crucial aceitar o fato de que existem diferentes religiões, e a fim de desenvolver verdadeiro respeito mútuo entre elas é essencial aproximar o contato entre as várias religiões. Esse é o segundo fator que possibilitará as religiões mundiais serem mais eficazes em beneficiar a humanidade.

Quando estava no Tibete, eu não tinha contato com pessoas de diferentes crenças religiosas. Assim, minha atitude em relação às outras religiões não era muito positiva. Mas, quando tive a oportunidade de encontrar pessoas de diferentes crenças e aprender com essa experiência e o contato pessoal, minha atitude para com as outras religiões mudou. Compreendi como são úteis para a humanidade e o potencial contributivo de cada uma para um mundo melhor. Há séculos, as religiões vêm dando contribuições maravilhosas para o aprimoramento dos seres humanos, e ainda hoje há um grande número de seguidores do cristianismo, islamismo, judaísmo, budismo, hinduísmo e assim por diante. Milhões de pessoas estão se beneficiando de todas essas religiões.

Para dar um exemplo do valor do encontro de diferentes crenças, meus encontros com o falecido Thomas Merton fizeram-me perceber que bonita, maravilhosa pessoa ele era. Noutra ocasião, encontrei-me com um monge católico que viveu vários anos como eremita numa montanha bem atrás do mosteiro de Montserrat, na Espanha. Quando visitei o mosteiro, ele desceu de sua ermida especialmente para falar comigo. O fato de o inglês dele estar pior do que o meu me deu mais coragem de falar com ele! Ficamos cara a cara e perguntei, "Nesses poucos anos, o que você estava fazendo naquela montanha?" Ele olhou-me e respondeu, "Meditação na compaixão, no amor". Quando ele disse estas poucas palavras, entendi a mensagem através dos seus olhos. Realmente desenvolvi verdadeira admiração por ele e por outros como ele. Tais experiências ajudaram a confirmar na minha mente que todas as religiões do mundo têm o potencial para produzir boas pessoas, a despeito das suas diferenças de filosofia e doutrina. Cada tradição religiosa tem sua própria maravilhosa mensagem a transmitir.

Do ponto de vista do budismo, por exemplo, o conceito de um criador é ilógico. É difícil para os budistas entenderem esse conceito por causa do modo que eles analisam a causalidade. Contudo, este não é o lugar para discutir questões filosóficas. O ponto importante aqui é que para as pessoas que seguem esses ensinamentos nos quais a crença básica está num criador, esta abordagem é eficaz. De acordo com essas tradições, o ser humano individual é criado por Deus. Além disso, como recentemente aprendi de um dos meus amigos cristãos, eles não aceitam a teoria do renascimento, e assim, não aceitam vidas passadas ou futuras. Acreditam somente nesta vida. Contudo, eles mantêm que esta vida é criada por Deus, pelo criador, e esta idéia desenvolve neles um sentimento de intimidade com Deus. Seu ensinamento mais importante é que, como estamos aqui por desejo de Deus, nosso futuro depende do criador, e porque o criador é considerado supremo e sagrado, devemos amar a Deus, o criador.

O que segue-se a isso é o ensinamento que deveríamos amar nossos semelhantes — esta é a mensagem principal aqui. O raciocínio é que se amamos a Deus, devemos amar nossos semelhantes porque eles, como nós, foram criados por Deus. O futuro deles, como o nosso, depende do criador, portanto, sua situação é igual a nossa. Logo, a crença das pessoas que dizem "Ame a Deus" mas não mostram amor verdadeiro para seus semelhantes é questionável. A pessoa que acredita em Deus e no amor a Deus, deve demonstrar a sinceridade de seu amor a Deus através do amor dirigido aos semelhantes. Essa abordagem é muito poderosa, não é?

Assim, se examinarmos cada religião por vários ângulos e da mesma maneira — não apenas da nossa posição filosófica mas de vários pontos de vista — não pode haver dúvida de que todas as grandes religiões têm o potencial para melhorar os seres humanos. Isto é óbvio. Através de um contato próximo com pessoas de outras fés, é possível desenvolver uma atitude aberta e de respeito mútuo em relação a outras religiões. Proximidade com diferentes religiões ajuda-me a aprender novas idéias, novas práticas, e novos métodos ou técnicas que posso incorporar à minha própria prática. Da mesma forma, alguns de meus irmãos e irmãs cristãos adotaram certos métodos budistas, como a prática da mente unifocada e as técnicas de desenvolvimento da tolerância, da compaixão e do amor. O benefício é enorme quando praticantes de diferentes religiões se unem para esse tipo de intercâmbio. Além de desenvolverem a harmonia entre si, ganham outras benesses.

Políticos e líderes de nações falam com freqüência em "coexistência" e "ação conjunta". Por que não nós, religiosos, também? Acho que é chegada a hora. Em Assis, em 1987, por exemplo, líderes e representantes de várias religiões mundiais se encontraram para orar juntos, embora eu não saiba ao certo se orar é a palavra exata para descrever com acuidade a prática de todas aquelas religiões. Em todo caso, o que importa é que os representantes de várias religiões se reuniram e, conforme suas próprias crenças, rezaram. Isso já está acontecendo e é, creio eu, muito positivo. No entanto, ainda precisamos fazer mais esforços para aumentar a harmonia e a proximidade entre as religiões mundiais, pois sem um tal esforço continuaremos a vivenciar todos esses problemas que dividem a humanidade. Se a religião fosse o único remédio para reduzir o conflito humano, mas se este mesmo remédio se tornasse outra forma de conflito, seria um desastre. Hoje, como no passado, ocorrem conflitos em nome da religião por causa de diferenças religiosas, e acho isso muito triste. Mas, como disse antes, se pensarmos aberta e profundamente compreenderemos que a situação atual é inteiramente diferente do passado. Não estamos mais isolados, mas somos interdependentes. Hoje, portanto, é muito importante entender que um relacionamento íntimo entre as várias religiões é essencial, para que diferentes grupos religiosos possam trabalhar juntos e realizar um esforço comum para o benefício da humanidade. Assim, sinceridade e fé na prática religiosa por um lado, e tolerância e cooperação religiosa por outro, formam este primeiro nível do valor da prática espiritual para a humanidade.

O segundo nível da espiritualidade — a compaixão como religião universal — é mais importante que o primeiro porque, não importa quão maravilhosa uma religião possa ser, ainda assim ela é aceita somente por um número limitado de pessoas. A maioria dos cinco ou seis bilhões de seres humanos em nosso planeta provavelmente não pratica religião alguma. De acordo com o seu ambiente familiar, eles poderiam se identificar como pertencentes a um ou outro grupo religioso — "eu sou hindu", "eu sou budista", "eu sou cristão" —, mas realmente a maioria desses indivíduos não é necessariamente praticante de nenhuma crença religiosa. Isto está correto: seguir uma religião ou não é um direito da pessoa como indivíduo. Todos os grandes mestres, como Buda, Mahavira, Jesus Cristo e Maomé falharam em tornar toda a população humana voltada para a espiritualidade. O fato é que ninguém pode fazer iss Se esses não-crentes são chamados de ateus não importa. De fato, para alguns estudiosos ocidentais os budistas também são ateístas, pois não aceitam um criador. Por isso, às vezes, ao descrever estes não-crentes, adiciono a palavra "extremo" e os chamo de não-crentes extremos. Eles não apenas são não-crentes mas também são extremos, presos ao ponto-de-vista de que a espiritualidade não tem valor. Contudo, devemos lembrar que essas pessoas também são uma parte da humanidade e também têm, como todos os seres humanos, o desejo de viver uma vida pacífica e feliz. Este é o ponto importante.

Acredito que não há problemas em permanecer não-crente, mas enquanto você fizer parte da humanidade, enquanto você for um ser humano, você precisa de afeição humana, compaixão humana. Este é realmente o ensinamento essencial de todas as tradições religiosas: o ponto crucial é a compaixão ou afeição humana. Sem afeição humana, mesmo crenças religiosas podem tornar-se destrutivas. Assim, a essência, mesmo na religião, é um bom coração. Considero que a afeição humana, ou compaixão, é a religião universal. Crente ou não-crente, todos necessitam de afeição humana e compaixão, porque compaixão nos dá força interior, esperança e paz mental. Assim, ela é indispensável para todos.

Examinemos, por exemplo, a utilidade de um bom coração na vida cotidiana. Se estamos de bom humor quando nos levantamos de manhã, com um sentimento caloroso no coração, automaticamente está aberta a nossa porta interior para aquele dia. Mesmo se uma pessoa pouco amistosa aparece, não nos perturbamos, e podemos até dizer a ela alguma coisa simpática. Mas num dia de humor menos positivo, quando nos sentimos irritados, nossa porta interior se fecha automaticamente. O resultado é que, mesmo se encontramos nosso melhor amigo, ficamos pouco à vontade e tensos. Tais situações mostram a diferença que nossa atitude interior faz nas experiências do dia-a-dia. Precisamos, pois, a fim de criar uma atmosfera agradável em nós mesmos, nas nossas famílias e nossas comunidades, compreender que a fonte desse bem-estar está dentro do indivíduo, dentro de cada um de nós — um bom coração, compaixão humana, amor.

Uma vez criada uma atmosfera positiva e amistosa, o medo e a insegurança automaticamente diminuem. Assim, podemos facilmente fazer mais amigos e criar mais sorrisos. Afinal de contas, somos animais sociais. Sem amizade humana, sem o sorriso humano, nossa vida torna-se miserável. O sentimento de solidão fica insuportável. É a lei natural, isto é, pela lei natural dependemos dos outros para viver. Se, sob certas circunstâncias, por algo estar errado dentro de nós, nossa atitude para com nossos semelhantes, de quem dependemos, se tornar hostil, como poderemos esperar paz de espírito e uma vida feliz? De acordo com a natureza humana básica, ou lei natural, a afeição — compaixão — é a chave da felicidade. Segundo a medicina contemporânea, um estado mental positivo, ou paz mental, também é benéfico para a saúde física. Logo, mesmo do ponto de vista de nossa saúde, paz e calma mental são cada vez mais importantes. Isso mostra que o próprio corpo físico aprecia e responde à afeição humana, à humana paz de espírito.

Se olharmos para a natureza humana básica, veremos que nossa natureza é mais dócil do que agressiva. Se examinarmos vários animais, notaremos que aqueles de natureza mais pacífica têm uma estrutura corporal correspondente, enquanto os predadores têm uma estrutura corporal desenvolvida de acordo com a natureza deles. Compare um tigre com um veado. Há uma grande diferença de estrutura física entre eles. Quando comparamos o nosso próprio corpo com os deles, vemos que somos mais parecidos com os veados e coelhos do que com os tigres. Até os nossos dentes são mais parecidos com os deles, não são? Bem diferentes dos do tigre. Nossas unhas são outro bom exemplo — eu não sou capaz de pegar nem um rato, só com as minhas unhas humanas. Claro, a inteligência humana nos habilita a criar ferramentas e métodos sem os quais seria difícil fazer muito do que fazemos. Como vêem, devido ao nosso estado físico, pertencemos à categoria dos animais dóceis. Acho que é nossa natureza humana fundamental que se mostra em nossa estrutura física básica.

Diante da situação global atual, a cooperação é essencial, especialmente em campos como economia e educação. O conceito de que diferenças são importantes está agora mais ou menos ultrapassado, como demonstra o movimento por uma Europa Ocidental unificada. Acho que esse movimento é verdadeiramente maravilhoso e chega em boa hora. Ainda assim, esse trabalho entre as nações não aconteceu por causa de compaixão ou fé religiosa, mas por necessidade. Há uma tendência crescente em direção da conscientização global. Nas atuais circunstâncias, um relacionamento mais íntimo com os outros tornou-se um elemento da nossa própria sobrevivência. Portanto, o conceito de responsabilidade universal baseado na compaixão e num senso de irmandade é essencial. O mundo está cheio de conflitos — por causa de ideologia, de religião ou até entre famílias — baseados em alguém querendo uma coisa e outra pessoa querendo outra coisa. Assim, se examinarmos as fontes de todos esses conflitos, descobriremos muitas fontes, muitas causas, até dentro de nós mesmos.

Nesse meio tempo, todavia, temos o potencial e a capacidade de unirmo-nos harmoniosamente. Tudo mais é relativo. Embora haja várias causas de conflito, existem ao mesmo tempo muitas causas para união e harmonia. Chegou a hora de pôr mais ênfase na união. Também aqui, há que haver afeição humana. Por exemplo, você pode ter uma opinião ideológica ou religiosa diferente da de outra pessoa. Se você respeitar o direito da outra pessoa e mostrar sinceramente uma atitude compassiva para com ela, então não importa se a idéia dela lhe serve, isso é secundário. Enquanto a outra pessoa acreditar, enquanto puder se beneficiar de tal ponto de vista, ela estará em seu absoluto direito. Então, precisamos respeitar e aceitar o fato de que existem diferentes pontos de vista. No campo da economia dá-se o mesmo: nossos competidores devem obter algum lucro, pois eles também precisam sobreviver. Quando temos uma visão mais ampla baseada na compaixão, creio que tudo se torna mais fácil. Compaixão, mais uma vez, é o fator-chave.

Os conflitos mundiais estão hoje consideravelmente menos tensos. Felizmente, agora podemos pensar e falar seriamente sobre desmilitarização. Cinco anos atrás isso seria difícil, mas hoje a Guerra Fria entre os Estados Unidos e a ex-União Soviética acabou. Aos meus amigos americanos eu sempre digo: A força de vocês não vem das armas nucleares, mas dos nobres ideais de democracia e liberdade dos seus antepassados. Quando estive nos Estados Unidos em 1991, pude encontrar o ex-presidente George Bush. Na ocasião, falávamos sobre a nova ordem mundial e eu lhe disse: Uma nova ordem mundial com compaixão é ótimo. Sem compaixão, não tenho certeza.

Creio que é um bom momento para pensarmos e falarmos sobre desmilitarização. Já há sinais de redução armamentícia e, pela primeira vez, de desnuclearização. Passo a passo, vamos vendo uma diminuição de armas. Penso que nossa meta deveria ser a de livrar o mundo — nosso pequeno planeta s das armas. Isso não quer dizer, porém, que devamos abolir todo tipo de armas. Talvez seja preciso guardar algumas, pois há sempre algumas pessoas e grupos criando confusão entre nós. Por precaução, e para nos resguardarmos desses focos, poderíamos criar um sistema internacional de forças policiais monitoradas regionalmente, que não pertençam a nenhum país mas sejam controladas coletivamente e supervisionadas por uma organização internacional, como as Nações Unidas. Sem armas disponíveis, não haveria perigo de conflito militar entre as nações, nem haveria guerras civis.

A guerra continua sendo, para nossa tristeza, parte da história humana, mas acho que chegou a hora de mudar os conceitos que levam à guerra. Certas pessoas acham gloriosa a guerra, e que através dela podem se tornar heróis. Essa atitude comum em relação à guerra é muito errada. Um entrevistador me disse, um desses dias, que os ocidentais têm muito medo da morte, mas que os orientais a temem pouco. Eu lhe respondi, em tom de brincadeira, que para a mentalidade ocidental, a guerra e a instituição militar parecem extremamente importantes. Guerra significa morte — provocada, e não por causas naturais. Assim, são vocês, ocidentais, que não temem a morte, porque gostam tanto da guerra. Nós, orientais, principalmente nós, tibetanos, não podemos nem pensar em guerra; lutar, para nós, está fora de cogitação porque o resultado inevitável da guerra é o desastre: morte, ferimentos e miséria. Portanto, o conceito de guerra para nós é extremamente negativo. Isso quer dizer que, na realidade, temos mais medo da morte do que vocês, você não acha?

Infelizmente, alguns fatores fazem que nossas idéias sobre a guerra sejam muito incorretas. É hora, portanto, de pensar seriamente sobre desmilitarização. Eu senti isso profundamente, durante e depois da crise do Golfo Pérsico. Claro, todos culparam Sadam Hussein, e não há dúvida de que Sadam Hussein é negativo — ele errou de muitas maneiras. Afinal, ele é um ditador, e ditadores são obviamente negativos. No entanto, sem sua organização militar, sem suas armas, Hussein não seria aquele tipo de ditador. Quem lhe forneceu as armas? Os fornecedores também têm responsabilidade. Alguns países ocidentais lhe forneceram armas sem medir as conseqüências.

Pensar apenas em dinheiro, em lucrar vendendo armas, é realmente horrível. Certa vez, encontrei uma francesa que passara muitos anos em Beirute, no Líbano. Ela me disse, com grande tristeza, que durante a crise em Beirute havia gente de um lado da cidade ganhando dinheiro com a venda de armas, enquanto do outro lado, no mesmo dia, havia gente inocente sendo morta pelas mesmas armas. Da mesma forma, de um lado do planeta há pessoas vivendo suntuosamente com o lucro auferido da venda de armas, enquanto pessoas inocentes morrem do outro lado do planeta, vítimas daquelas balas sofisticadas. O primeiro passo, portanto, é parar a venda de armas. às vezes eu brinco com meus amigos suecos: Vocês são mesmo maravilhosos. Mantiveram a neutralidade durante o último conflito e sempre consideram a importância dos direitos humanos e da paz mundial. ótimo. Mas, nesse meio tempo, estão vendendo muitas armas. Há uma pequena contradição aí, não há?

Assim, desde a crise do Golfo Pérsico, prometi a mim mesmo que pelo resto da minha vida contribuirei para avançar a idéia da desmilitarização. No que diz respeito ao meu país, já resolvi que, futuramente, o Tibete deverá ser uma zona totalmente desmilitarizada. Mais uma vez, para tornar a desmilitarização uma realidade, o fator chave é a compaixão.

Gostaria de concluir explicando melhor o significado de compaixão, que freqüentemente é mal entendido. Compaixão verdadeira não está baseada em nossas próprias projeções e expectativas, mas sim nos direitos do outro: independentemente da outra pessoa ser um amigo íntimo ou um inimigo, contanto que ela deseje paz e felicidade e deseje superar o sofrimento, então, baseado nisso, desenvolvemos respeito verdadeiro para com seus problemas. Isso é compaixão verdadeira.

Em geral, chamamos qualquer preocupação com um amigo próximo de compaixão. Isso não é compaixão, é apego. Nem casamentos duram por apego, embora o apego geralmente esteja presente. Eles duram porque também há compaixão. Se os casamentos duram pouco, é por perda de compaixão; só há apego emocional baseado em projeção e expectativa. Quando o único vínculo entre amigos íntimos é o apego, mesmo uma questão menor pode causar uma mudança nas projeções. Assim que nossa projeção muda, o apego desaparece — porque o apego estava baseado unicamente na projeção e expectativa. 

É possível ter compaixão sem apego — e similarmente, ter cólera sem ódio. Portanto, precisamos esclarecer as diferenças entre compaixão e apego, e entre cólera e ódio. Tal clareza é útil em nossa vida diária e em nossos esforços para a paz mundial. Considero esses valores espirituais como básicos para a felicidade de todos os seres humanos, tanto do crente quanto do não crente.

Ensinamento dado em Melbourne, Austrália, no National Tennis Centre, em 4 de maio de 1992 e publicado em Dimensions of Spirituality, Wisdom Publicaions, 1995. Tradução de Bruno D'Avanzo do Centro de Estudos Budistas Paramitta (Curitiba - PR), em sua visita ao CEBB em julho 1996, e de José Fonseca do CEB-Bodisatva (Porto Alegre - RS).

Mensagem da SeiCHO-NO-IE do Brasil


 Tenha Bons Amigos

Mesmo uma pessoa dotada de grande talento não conseguirá realizar sozinho uma grande obra. Por exemplo, um artista talentoso também precisa do apoio de um grupo de amigos e simpatizantes que compreendam sua arte. Os literatos como Mushanokōji Saneatsu, Satomi Ton, Nagayo Yoshiro, Arishima Takeo, Yanagi Muneyoshi e outros tiveram suas obras aceitas e bastante elogiadas pelo público e se tornaram intelectuais consagrados porque pertenciam a um grupo da corrente literária Shirakaba, cujos membros procuravam sempre compreender os trabalhos dos colegas, elogiá-los e incentivá-los. Eles estavam unidos pelo amor e elogiavam uns aos outros os pontos positivos das respectivas obras artísticas.

Somente quem ama consegue descobrir os pontos positivos do outro. Descobrir é “fazer surgir concretamente”. Portanto, somente aquele que tem afeto sincero pelo amigo consegue fazer surgir concretamente os pontos positivos dele. Num mundo em que ninguém se importa com ninguém, e as pessoas não se amam nem se elogiam mutuamente, não se desenvolvem as qualidades nem surge a felicidade. Para poder desenvolver as qualidades e alcançar a felicidade, as pessoas precisam formar grupos de bons amigos.

Se alguém não consegue ter amigos, é porque tem a postura mental errada: espera que os outros o amem e lhe proporcionem algo bom, mas ele próprio não toma a iniciativa de fazer algo bom para os outros, de expressar o afeto, e pensa que somente quando os outros tomarem a iniciativa deve procurar corresponder à demonstração de amizade. Permanecendo nessa atitude passiva, sem tomar nenhuma iniciativa, não conseguirá criar algo valioso nesta vida nem concretizar a própria felicidade.

Somente quem ama é amado, somente quem se doa merece doação, somente quem cria algo valioso pode desfrutar coisas boas e preciosas. Se você deseja receber amor, deve tomar a iniciativa de cultivar o amor. Antes de mais nada, precisa se tornar uma pessoa cativante. O amor é uma grande força que cativa e magnetiza. Aquele que é capaz de amar intensamente a humanidade torna-se alvo de amor fervoroso da multidão. Se você concentrar sua atenção em alguém e expressar-lhe seu afeto sincero, com certeza ele se tornará um bom amigo e um excelente colaborador.

Se você quer ser amado, tome a iniciativa de amar. Talvez você tenha passado pela experiência de amar alguém e não ser correspondido. Nesse caso, embora você pensasse amar essa pessoa, não a amava de verdade. Você buscava algo em troca do amor. Expressar amor com o objetivo de obter algo em troca – isso é o que as meretrizes fazem. Obviamente, não é o amor verdadeiro. Somente quem ama de verdade pode receber o amor verdadeiro, que é generoso, desprendido e não exige retribuição.

Ame a humanidade sem esperar recompensa. Aqueles que pensam em sabotar a produção não amam a humanidade. Se você ama os trabalhadores, eles se aliarão a você, se tornarão seus amigos. Mas se você fechar-lhes as portas, eles também criarão barreiras. Para obter amigos, você próprio deve oferecer amizade aos outros, deve dedicar-lhes amor sincero, sem esperar recompensas.

Você já deve ter compreendido que o amor se obtém com o amor – e que o amor é uma grande força magnética. Agora, eu lhe pergunto: Ao amar alguém, o que você ama nessa pessoa? O talento? Os traços fisionômicos? A boa apresentação? A habilidade no trato social? A expressividade? O porte elegante? A bela voz? Qualquer que seja o ponto que você admire nessa pessoa, isso não significa que a ama de verdade. As partes manifestadas não retratam o todo, não representam o Eu verdadeiro da pessoa.

Suponhamos que a pessoa amada sofra um acidente grave e fique com o rosto deformado. Se você amava a bela aparência dessa pessoa, provavelmente você deixará de amá-la. Se você amava o talento dessa pessoa, deixará de amá-la ao perceber que, em conseqüência do acidente, ela já não consegue manifestar o talento. Entretanto, nem a aparência nem o talento são a “pessoa em si”, ou seja, a essência do seu ser. Mesmo que a pessoa se torne feia, mesmo que o seu talento seja arruinado, a sua essência não muda. Seu amor se mantém imutável mesmo que a pessoa sofra transformações, seja no aspecto físico ou na capacidade intelectual? Reflita, faça um exame crítico dos seus próprios sentimentos. Se você não consegue ter bons amigos, analise a própria atitude mental. Provavelmente, é porque você não toma a iniciativa de “criar” bons amigos. Em última análise, passa a ser nosso somente o que nós próprios criamos.

Se você deseja sinceramente fazer amizade com alguém, dedique-lhe o afeto genuíno. A pessoa acolherá o seu afeto e se tornará um bom amigo.

Não se limite a amar somente o aspecto exterior do outro, admirando-lhe os traços fisionômicos, o visual, a conduta, a postura, o talento, a riqueza, a posição social etc. Ame-o pelo que constitui a sua verdadeira essência: a sua natureza espiritual, a sua natureza divina, o seu Eu verdadeiro de filho de Deus. Não importa a aparência da pessoa, não importa que ela tenha talento limitado, seja pobre e de posição inferior, não importam a sua voz e a sua postura, se você contemplar-lhe a Imagem Verdadeira, conseguirá sentir amor por ela. Você seria capaz de agir como a imperatriz Kōmyō, que cuidou dos leprosos com amor e carinho? Por mais repulsivo que seja o aspecto fenomênico de alguém, devemos ver com os olhos da alma a sua natureza espiritual divina – ou “natureza búdica”, na linguagem do budismo – e contemplar com respeito e amor esse aspecto verdadeiro. Contemplar é fazer surgir. Por isso, quando a imperatriz Kōmyō transcendeu o aspecto fenomênico repulsivo de um leproso e lavou as feridas repugnantes das suas costas, contemplando a natureza búdica dele, o paciente assumiu a forma de Ashuku Nyorai, uma das manifestações de Buda. Agir como a imperatriz Kōmyō, que contemplava a Imagem Verdadeira de todas as pessoas e reconhecia-lhes a natureza divina – ou búdica – é praticar a verdadeira democracia.

Somente quem ama de verdade é amado. Somente quem ama consegue vivenciar a felicidade de amar e ser amado. Não é possível alcançar a felicidade coagindo e pressionando os outros, pois tal conduta é contrária ao amor. É possível conseguir o que se deseja usando a força coercitiva e exercendo pressão, mas isso atenta contra o amor, e não se consegue a verdadeira felicidade por meio de atos que não se fundamentam no amor. O prazer que se consegue derrotando os outros ou exercendo-lhes pressão é uma espécie de prazer sádico, e não um sentimento humano. Somente o amor atrai o amor, somente o amor traz a felicidade serena e tranqüila.

Do livro Kofuku Seikatsuron (ainda não editado em português; tít. prov.: Teoria sobre a Vida Feliz), pp. 15-20